segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

4 anos não são 4 dias

Se eu dissesse que a minha vida me foi arrancada provavelmente não acreditariam. Se eu dissesse que tenho quatro anos, ao olharem para mim não acreditariam.
E agora já nem isso. Metade da minha vida foi-me tirada. Segundo a Matemática, diriam que agora tenho dois anos. Não tenho. Não tenho nada. Porque metade da minha vida não são anos, é uma pessoa.
Não vivi dias, meses ou anos; vivi sorrisos, olhares, conversas, beijos e os melhores abraços do mundo. Vivi silêncios bons. Tudo isso junto são quatro anos e mais uma vida. Tudo o que sou, tudo o que me fiz, não me fiz, fizeram-me, tornaram-me. Vivi tudo para e com essa pessoa.
E agora? E agora? E agora nada. Provavelmente dirme-iam que a ressurreição existe. Não neste caso. Nunca mais a minha vida, aquela vida, vai voltar. Não vai voltar nem vai continuar. Acabou. Aquela vida foi viver com outra. Aquela não, nem uma parecida, porque aquela era, é e vai continuar a ser a minha vida durante muito tempo. Resta a metade de cá, que nem sequer é sem a metade de lá.
Começo então, pouco convencida, uma só para mim, inteira. E então eu vivo num silêncio. Mas este é mau, destrói e apaga. Apaga-me a mim, nunca a memória daquela vida. Da minha vida.
E ao passarem por mim, se me olharem apressadamente não dirão que ainda sou um bebé de dois meses. Mas se, ao passarem por mim, me olharem atentamente, dentro dos olhos, perceberão que morri há pouco tempo.

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