sexta-feira, 13 de julho de 2012

Férias

Bem ou mal, faltam 5 dias para as férias!
Mal posso esperar por ir à praia, correr, passear, ir ao ginásio, estar com os amigos, sair...!:D


Pensando bem, acho que vou ficar pelo sofá.

sábado, 7 de julho de 2012

Mismatch

Adorava aquele casaco.
Quem, ele?
Não, eu. Vestia-o sempre com coisas que ficavam horrivelmente mal, mas ficava adorável.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Redículo, Álvaro!

       Todas as cartas de amor são
       Ridículas.
       Não seriam cartas de amor se não fossem
       Ridículas.

       Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
       Como as outras,
       Ridículas.

       As cartas de amor, se há amor, 
       Têm de ser
       Ridículas.

       Mas, afinal,
       Só as criaturas que nunca escreveram 
       Cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.

       Quem me dera no tempo em que escrevia 
       Sem dar por isso
       Cartas de amor
       Ridículas.

       A verdade é que hoje 
       As minhas memórias 
       Dessas cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.

       (Todas as palavras esdrúxulas,
       Como os sentimentos esdrúxulos,
       São naturalmente
       Ridículas.)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Encontros

Saiu do carro a olhar para o relógio, constatando que já estava atrasada. Apressou o passo e dirigiu-se à saída do parque subterrâneo. Já à superfície, a noite estava agradável e havia uma multidão na rua. «Lisboa é linda à noite», pensou. Cortou à direita, para o teatro, seguindo apenas o seu instinto, uma vez que não estava certa da sua localização. O passeio estava interrompido por obras na fachada de um dos prédios e foi obrigada a caminhar na estrada, o que quase a matou. «Taxistas!...», resmungou silenciosamente.
Ia com uns amigos assistir a uma comédia. A noite era votada ao riso, à leveza de espírito. Sabia que se ia divertir. Quando finalmente chegou à porta do teatro, encontrou-se com os amigos. Cumprimentou-os e entraram.

***

O seu álbum de fotografias mental tinha muitas entradas. Eram momentos da sua vida que tinha registado. O seu olhar, como se fosse uma câmera, o seu cérebro o rolo fotográfico. A cozinha nova da casa em construção era uma das entradas mais antigas. Remontava ao seus dois, três anos de idade. Com a fotografia, estavam "anotados" o sentimento de entusiasmo por uma coisa nova e um quase-orgulho por ela ser tão bonita. Passando umas páginas à frente, encontrava outra fotografia: a imagem de um raio eléctrico a passar-lhe mesmo à frente, durante uma trovoada que aconteceu estava ela na escola primária. Nunca vira uma coisa assim. Na verdade, até à data não tinha a certeza de que tivesse sido real. Avançando no tempo até à sua adolescência, as fotografias com o primeiro amor abundavam. Havia uma especial, que conseguia visualizar perfeitamente se o desejasse e fechasse os olhos: era uma fotografia do rosto dele visto de frente, mas apenas da secção que abrangia os olhos e o nariz. Ao lado, tinha anotado o quanto gostava dele, a perfeição do seu nariz triangular e dos seus olhos cor de avelã, as sobrancelhas aloiradas e o quão bom era quando, estando os dois deitados na relva a apanhar sol, desenhava o perfil dele com um dedo, passando-o gentil e calmamente pelos seus traços.
Estes momentos apareciam-lhe assim, salteados. Sempre que a vida lhe fazia magia ou às vezes em momentos banais. Eram aqueles segundos da nossa vida em que tudo pára e captamos tudo o que nos envolve, dando tempo para que o rolo fotográfico seja exposto à luz o tempo suficiente para captar a imagem perfeita.


***


O espectáculo proporcionou-lhes boas gargalhadas. No decorrer da noite que passaram juntos, não pôde deixar de observar os amigos enquanto estes se riam. Os sorrisos, o som das gargalhadas, as rugas em volta dos olhos... tudo isto a deliciava. Percebia que era de momentos destes que o seu álbum e, de uma maneira geral, a Vida eram feitos.
Quando o espectáculo acabou, saíram da sala e desceram as grandes escadas laterais do hall de entrada do edifício ainda a rir-se das partes mais engraçadas da peça. Saíram para a rua e fizeram as contas respeitantes ao bilhetes. Quando saldou a sua dívida ao amigo que os tinha comprado, alheou-se do grupo com o intuito de se deixar absorver pelo espírito da noite que a envolvia. Afastou-se uns passos e virou-se para a rua e as pessoas que passavam, as costas paralelas ao edifício de fachada branca. 
Olhava em volta, procurava algo de especial...
Foi quando olhou sobre o seu ombro direito que encontrou exactamente aquilo que andava à procura. O tempo parou e a magia voltou a acontecer: a mais recente entrada no seu álbum de fotografias.
Ali estava ele, perfilado consigo, de pose descontraída e mãos nos bolsos. A luz de um candeeiro de rua situado mesmo por cima da sua cabeça banhava-o, criando jogos de luz e sombras que lhe exaltavam a figura, mas ao mesmo tempo deixavam passar o seu íntimo humilde. As roupas meio largas que ela desdenhava nos outros rapazes, nele assentavam perfeitamente. Davam-lhe um ar simultaneamente composto e confortável. O gorro na cabeça ocultava parte do cabelo, deixando à vista apenas uma madeixa         loira à frente. Perfeito.

Mas, ao rever a fotografia vezes sem conta, ela apercebeu-se de que nada disto era o que a tornava tão especial. O melhor de tudo, mesmo? Ele estava a olhar directamente para a câmera.

Dera-se o encontro.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Epifania.

Finalmente percebeste. Ou, pelo menos, eu assim espero. Não suporto mais estas horas intermináveis em que o meu cérebro dá nós, e nós, e nós... e não chega nunca a perceber porque é que tudo o que te dou nunca é suficiente. Torna-se extenuante, não só pela reflexão, mas pelo próprio esforço físico que é estar constantemente a pensar em ti. Gasta-me energias que escasseiam e que me fazem muita falta.
Está na altura de cresceres, amigo. Muda de direcção; por ti, não por favor. Já não peço isso.
É por ti. Porque isso que tu tens não se chama vida. Porque estou farta de ter ver 'óptimo' mas de te ler numa angústia que até a mim, mesmo longe, sufoca.

Sai dessa, enfrenta. Mereces mais, mais uma vez.

Escusado será dizer que gosto muito de ti.
Fotografia de Jorge Neto. "De frente para a vida"

terça-feira, 20 de março de 2012

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Missão

Hoje acordei, depois de muitas horas de reposição de sono, e o meu pensamento foi, literalmente: "O que é que ê faço agora?". Tive vontade de ir ao quadro das escalas ver o que tinha de fazer hoje. Quase que fui à cozinha aquecer 5 litros de leite e põr M's nas mesas. Hoje apetecia-me voltar ao lar. Quando percebi que não tinha de fazer nenhuma dessas coisas, fiquei triste. Por mim, fazia desta semana a minha vida. E aposto que muitos de vocês também. Mas, por agora, não é isso que o Senhor nos pede.
Ele pede-nos que peguemos em todas as coisas que aprendemos e descobrimos esta semana e as ponhamos ao serviço de quem não esteve conosco. Agora cabe-nos a tarefa de partilhar esta alegria e entrega em todos os lugares a que vamos: na faculdade, na nossa paróquia, no nosso grupo de amigos e até numa viagem solitária no metro.
As pessoas precisam do nosso testemunho, de conhecer esta verdade libertadora.
Esta semana foi isso mesmo, libertadora. Acho que todos pensamos o mesmo. Libertámo-nos do peso da imagem. Ninguém queria saber se estava bonito ou não. Mesmo que tivéssemos tido espelhos em casa, poucas vezes eles veriam os nossos olhos, acho eu. Estávamos preocupados com coisas muito superiores. Libertámo-nos de coisas do passado, razões que nos faziam sofrer. Recolhemos a âncora que nos prendia e fizemo-nos ao mar. Perdoámos. Libertámo-nos das nossas inseguranças e de todos os constrangimentos e mostrámos quem realmente somos. Cantámos, dançámos e permitimo-nos fazer figuras que, noutras circunstâncias, tenho quase a certeza que não faríamos. Pelo menos eu não o faria. (Uma imitação do Segurado não é coisa que se faça para toda a gente). A certa altura, a meio de uma palhaçada, perguntei-me como é que eu estava a fazer aquilo. Rapidamente percebi que só o estava a fazer por confiar em vocês, por saber que estava entre amigos, entre pessoas que gostam. Se Deus gosta de mim a fazer palhaçadas, vocês também haveriam de gostar. Afinal de contas, vocês tinham-No convosco. Dei por mim a dar o Sim a mim mesma e a mostrar-me a vocês como nunca tinha feito com ninguém em tão curto espaço de tempo.
O C.A. foi um momento especial. Andei a semana toda a pensar que seria engraçado termos um momento assim, com necessidade de vos dizer a todos o que tudo aquilo tinha significado. Era para começar a minha intervenção assim, mas esqueci-me. Queria ter-vos dito que, nos dois dias que antecederam a Missão, equacionei não ir. Tinha medo de estar sozinha e de nao saber o que fazer. Mas havia qualquer coisa que me puxava, que me obrigava a dar o Sim. Pensei para mim mesma: "Sai desse comodismo, Mariana! Tu queres ter o orgulho de poder dizer a todos que em cinco anos de faculdade, fizeste cinco Missões. Tens de começar isto do início.". Também vos queria ter dito que nos primeiros dois dias, estive quase a desistir. Estava constipada, tinha dormido mal e não me sentia nada bem. Só pensava no quão confortável estaria na minha casinha, com a lareira acesa e a dormir o quanto quisesse. Mais uma vez, reprimi a minha preguiça e obriguei-me a ficar e a não desistir. "Já aqui estás. Uma gripe são três dias, por isso, daqui a dois dias hás-de estar boa, aqui ou em casa. E se te curares no dia a seguir a ires para casa, vais passar o resto da semana a roer-te por não estares aqui.", pensei. Não foi fácil, mas estou orgulhosa da decisão que tomei e grata a todos vós por me terem ajudado. Só foi possível com a vossa força.
Depois da gripe, veio a saga das lagartas e das comichões. Estava visto que aquilo nao me ia ser facilitado. À rouquidão juntou-se a comichão. Lindo. Nada disto me facilitou a tarefa a que Ele me tinha chamado, mas não desisti.
Cheguei ao Lar e senti-me inútil. Tão inutil. Se eles já ouviam pouco, pouco ouviram da minha boca, porque eu quase não falava. Mas, tal como disse, acredito que Deus me tirou a voz para eu falar com as minhas acções. Tentei, o mais que pude. Mas nem foi difícil. Convosco, consegui a cada momento fazer a melhor escolha; consegui dizer sempre "Bom dia!" com o maior amor, sorrir com alegria verdadeira.
Houve momentos em que desanimei, em que pensei que não estava no lugar certo. Não estava a dar o melhor de mim e eu sentia isso. Mas vocês deram-me o alento que precisava. Obrigada pelos vossos sorrisos contagiantes, pela vossa preocupação.
Nunca conseguirei explicar os momentos de oração a quem não os viveu. Nós estávamos todos ali numa salinha pequenina, apertadinhos. Mas o que sentimos foi tão grande que estava para além daquele espaço. Para além do espaço e do tempo. Estávamos ali uns para os outros e todos para Ele, numa entrega sem limites. Nunca esquecerei os sorrisos que se ouviam quando cantámos todos, a uma só voz, "O sorriso que é teu". Estávamos todos com o coração atado a ele, realmente. Não há como explicar aqueles momentos, mas esta música diz muito. De cada vez que entrava pela porta da capelinha, sabia que ia ter uma surpresa, que iria aprender algo que mudaria a minha vida. Sempre que saía, sabia que a minha função era partilhar o que tinha aprendido.
E assim tentei, durante toda a semana. E, apesar de as orações e da missão externa me terem ensinado muito, quem me ensinou mais durante toda a semana foram mesmo vocês, Missionários com letra maiúscula. Os vossos sorrisos logo pela manhã, as conversas sobre a vida, os abraços, os "oh, tão querida!"... vocês não calculam a importância. Sabem, também vos queria ter dito isto: acho que nunca ninguém me tinha achado querida...porque eu nunca fui querida. Quer dizer, nunca pude ser querida, não sei porquê. No fundo acho que sempre fui assim, mas poucas pessoas sabiam disso. Mas foi com o vosso amor e carinho que consegui mostrar isso a mais pessoas. Consegui mostrar-me. Quem eu realmente sou, como Ele me fez. E estou-vos eternamente grata por isso. Porque acho que agora as pessoas vão poder conhecer-me como eu sempre desejei.

E assim concluo o meu testemunho, com umas quantas coisas ditas mas muitas mais por dizer. Não tenho palavras para descrever o impacto desta semana e das vossas luzinhas na minha vida. Fomos força transformadora não só para os Samorenses, mas também uns para os outros. E isso não tem preço. Obrigada a todos. Obrigada aos chefes. Guardo-vos no meu coração, na minha memória e nesta cruz que tenho ao peito. Vamos continuar a nossa obra; a nossa não, a d'Ele.

NÓS SOMOS A LUZ DO MUNDO!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Road signs

A placa deu início à contagem decrescente. Durante todo o caminho dentro daquela localidade, lutei pelo oxigénio, que me fugia dos pulmões e se esgotava a cada metro percorrido. Colada ao banco do pendura, ao lugar do morto, ali estava eu: impotente a lutar contra o passado que desfilava diante dos meus olhos. Após cada curva procurava o ponto de referência que me ficara gravado, a única imagem daquela terra que sobrevivera na minha memória: o portão branco 'grafitado de verde', como um dia o descreveu, contando a irritação do pai ao ver o estado da grande placa de metal. Na última curva, ele apareceu. Esta visão deu-me nauseas, agoniou-me. Fechei os olhos e virei a cara para o lado contrário, como se fechar os olhos não fosse suficiente para deixar de ver aquilo. E o oxigénio ia-se esgotando, e eu a afundar-me cada vez mais no banco do carro e nas memórias do meu passado, perguntando-me pela milionésima vez por que não deu certo, lamentando nunca me ter disposto a abrir aquele portão enquanto foi tempo. Os meus lábios contraíram-se numa linha, eu a fazer um esforço por não chorar. Senti dor, saudades e medo do passado mais recente. Calei-os. Calei-os a todos.
Passada a placa com a risca vermelha traçada na diagonal, a contagem parou. Mesmo a tempo. O oxigénio voltou, a dor passou e o medo tambem. A saudade ainda não passou. Aliás, pergunto-me se algum dia passará.
O que importa é que, na estrada da minha vida, este capítulo, tal como a bendita placa, tem um traço por cima, que marca não só um fim, mas, sobretudo, um início. E tudo o resto ficou para trás.

Witchcraft

Há uns dias alguém me disse que eu era uma bruxa.

- Então e que kind of girl am I?
- A witch. Indeed. Someone with the power to do loads of stuff but who hasn't found potential to do it without a "magic" book".

E pronto, foi assim que me descreveram. Na altura fiquei sem perceber muito bem.

Hoje, ao pensar nisso e em muitas coisas mais que não vêm para o caso, percebi que esse alguém era capaz de ter razão.
Custou-me saber que tinha de consultar o "livro de instruções" constantemente, naquele dia. Doeu-me perceber o quão insegura sou. Ou antes, me tornei. E foi aqui que tudo se desvendou na minha cabeça: eu não era assim, eu tinha um livro. O MEU livro. Já o sabia de cor e salteado e, por isso, já quase não o consultava. Sabia que na página tal, a dado momento, iria acontcer isto ou aquilo. Mas veio a vida... e ela disse-me que o meu livro estava totalmente errado. Que tudo o que eu tinha como verdades na minha vida eram apenas mitos ou ilusões.

Então, tive de pôr esse livro de lado e arranjar um novo.
Bem, como devem perceber, sendo ele novo, ainda não o conheço como deve ser. Ainda tenho de o consultar muitas vezes e nem sequer li o índice para ver que tipo de receitas tem. Só espero que seja melhor que o outro; uma versão corrigida, não precisa de ser um totalmete diferente...

Por isso, peço-vos que sejam pacientes e que nao se chateiem comigo quando eu estiver atrapalhada, a passar páginas para trás e para a frente à procura da minha resposta. ;)


__

Ao alguém que acha que eu tenho uma veruga no nariz, sou desgrenhada e faço poções mágicas, mas que, ainda assim, acredita no meu potencial. ;)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

The Edge of the Dream

― Não sei como é que concordei que fosses tu a organizar a minha festa.  ― disse, ao ver um monte de gente desconhecida a entrar na sua casa. ― Ao menos convidaste as minhas amigas, certo?
― Sim, descansa. 
Da varanda, olhou o mar. Estava calmo. Tentou seguir-lhe o exemplo.

                                                                                         ***


Minutos depois, já conformada com a situação, olhou em volta, a confirmar se já toda a gente estava sentada. Parecia-lhe impossível caber tanta gente sentada naquela casa. Ao dar a volta à sala, reparou numa cadeira vazia e, de repente, o seu coração acordou. Faltava ele.
Olhou o irmão e disse-lhe , com o coração em sobressalto ― Ele vem, não vem?
― Vem.
O irmão devolveu-lhe um olhar compreensivo e tranquilizante. Sabia exactamente de quem ela estava a falar.
Como poderia ela ter-se esquecido dele? Felizmente, o irmão afinal tinha tudo controlado. Mais do que lhe parecera no início da festa.


                                                                                      ***
― Sim, aceito. ― As lágrimas caíam-lhe da cara enquanto o beijava.
Saíram apressadamente da igreja.
De um momento para  outro, encontravam-se numa estância balnear, a dirigir-se para o hotel. Umas raparigas estrangeiras que falavam inglês interpelaram-nos, a pedir indicações, porque estavam ali de férias. Ao notar a felicidade deles, perguntaram-lhes o que os trazia por ali.
― We just got married. We're in our honeymoon.― disseram, com um sorriso na cara, para depois se beijarem mais uma vez
Despediram-se das raparigas com um sorriso, depois de elas lhes terem desejado felicidades. 
Ainda não acreditavam. Não se conseguiam largar; eram agora um só. Tudo se tinha passado muito depressa, mas era como se se conhecessem havia anos. Apesar da felicidade e da alegria de estarem casados ser imensa, a serenidade envolvia-os. Olhavam-se nos olhos e davam as mãos enquanto caminhavam na direcção do hotel. Estava destinados àquilo.


                                                                                  ***

Entraram no hotel onde eles e mais alguns amigos iam ficar hospedados. Era estranho. A porta de entrada parecia a de um café. Tinha o pé-direito baixíssimo. As paredes eram vermelhas, revestidas mais de pó que de tinta. Notavam-se manchas de humidade e o balcão da recepção mais parecia o de um cabaret imundo dos anos 30. O tampo era de uma madeira escura, já quase sem verniz e o espelho era vermelho, debruado a dourado. As luzes da sala eram amareladas, conferindo ao lugar um ar ainda mais suturno e sujo. Apesar do ar bizarro do hotel, tudo parecia ter um erotismo oculto, que eles estavam ansiosos por descobrir.
A sala estava cheia de pessoas que reclamavam pelo tempo de espera. Esperaram algum tempo abraçados. Como já não suportava a espera, pediu-lhe que fosse ao balcão da recepção tentar saber porque esperavam tanto enquanto ela ia à rua apanhar ar. Foi a única altura em que se largaram.
Saiu pela "porta-de-café" e encostou-se à parede contígua. Precisava de fumar um cigarro. Após ter acendido o cigarro olhou em volta. Ao seu lado esquerdo, colada ao hotel, havia uma pocilga. Uma mulher velha discutia com um homem também ele velho enquanto alimentavam os porcos, esfomeados. Fez um esgar de nojo e notou uma forma estranha dentro da pocilga. Olhou mais atentamente e percebeu o que era. Um pé humano, em decomposição. Agoniada com a visão voltou para dentro e agarrou-se ao seu marido.
Não lhe contou o que tinha acabado de ver. Nada conseguia interferir na sua felicidade. Limitou-se a sorrir-lhe e beijou-o. Faltava pouco para estarem juntos para sempre.