quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

The Edge of the Dream

― Não sei como é que concordei que fosses tu a organizar a minha festa.  ― disse, ao ver um monte de gente desconhecida a entrar na sua casa. ― Ao menos convidaste as minhas amigas, certo?
― Sim, descansa. 
Da varanda, olhou o mar. Estava calmo. Tentou seguir-lhe o exemplo.

                                                                                         ***


Minutos depois, já conformada com a situação, olhou em volta, a confirmar se já toda a gente estava sentada. Parecia-lhe impossível caber tanta gente sentada naquela casa. Ao dar a volta à sala, reparou numa cadeira vazia e, de repente, o seu coração acordou. Faltava ele.
Olhou o irmão e disse-lhe , com o coração em sobressalto ― Ele vem, não vem?
― Vem.
O irmão devolveu-lhe um olhar compreensivo e tranquilizante. Sabia exactamente de quem ela estava a falar.
Como poderia ela ter-se esquecido dele? Felizmente, o irmão afinal tinha tudo controlado. Mais do que lhe parecera no início da festa.


                                                                                      ***
― Sim, aceito. ― As lágrimas caíam-lhe da cara enquanto o beijava.
Saíram apressadamente da igreja.
De um momento para  outro, encontravam-se numa estância balnear, a dirigir-se para o hotel. Umas raparigas estrangeiras que falavam inglês interpelaram-nos, a pedir indicações, porque estavam ali de férias. Ao notar a felicidade deles, perguntaram-lhes o que os trazia por ali.
― We just got married. We're in our honeymoon.― disseram, com um sorriso na cara, para depois se beijarem mais uma vez
Despediram-se das raparigas com um sorriso, depois de elas lhes terem desejado felicidades. 
Ainda não acreditavam. Não se conseguiam largar; eram agora um só. Tudo se tinha passado muito depressa, mas era como se se conhecessem havia anos. Apesar da felicidade e da alegria de estarem casados ser imensa, a serenidade envolvia-os. Olhavam-se nos olhos e davam as mãos enquanto caminhavam na direcção do hotel. Estava destinados àquilo.


                                                                                  ***

Entraram no hotel onde eles e mais alguns amigos iam ficar hospedados. Era estranho. A porta de entrada parecia a de um café. Tinha o pé-direito baixíssimo. As paredes eram vermelhas, revestidas mais de pó que de tinta. Notavam-se manchas de humidade e o balcão da recepção mais parecia o de um cabaret imundo dos anos 30. O tampo era de uma madeira escura, já quase sem verniz e o espelho era vermelho, debruado a dourado. As luzes da sala eram amareladas, conferindo ao lugar um ar ainda mais suturno e sujo. Apesar do ar bizarro do hotel, tudo parecia ter um erotismo oculto, que eles estavam ansiosos por descobrir.
A sala estava cheia de pessoas que reclamavam pelo tempo de espera. Esperaram algum tempo abraçados. Como já não suportava a espera, pediu-lhe que fosse ao balcão da recepção tentar saber porque esperavam tanto enquanto ela ia à rua apanhar ar. Foi a única altura em que se largaram.
Saiu pela "porta-de-café" e encostou-se à parede contígua. Precisava de fumar um cigarro. Após ter acendido o cigarro olhou em volta. Ao seu lado esquerdo, colada ao hotel, havia uma pocilga. Uma mulher velha discutia com um homem também ele velho enquanto alimentavam os porcos, esfomeados. Fez um esgar de nojo e notou uma forma estranha dentro da pocilga. Olhou mais atentamente e percebeu o que era. Um pé humano, em decomposição. Agoniada com a visão voltou para dentro e agarrou-se ao seu marido.
Não lhe contou o que tinha acabado de ver. Nada conseguia interferir na sua felicidade. Limitou-se a sorrir-lhe e beijou-o. Faltava pouco para estarem juntos para sempre.

4 comentários:

  1. Uma pessoa a ler um texto que gostou, ora. Aha

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    1. Primeiro, fico surpreendida que alguém goste do que escrevo. Segundo, estou curiosa sobre quem será essa pessoa com gostos estranhos xD

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