segunda-feira, 1 de julho de 2013

Sentimentalismos à parte

Tenho tanto sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento.
Que não senti afinal.

Temos, todos os que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual a errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem de pensar.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Férias

Bem ou mal, faltam 5 dias para as férias!
Mal posso esperar por ir à praia, correr, passear, ir ao ginásio, estar com os amigos, sair...!:D


Pensando bem, acho que vou ficar pelo sofá.

sábado, 7 de julho de 2012

Mismatch

Adorava aquele casaco.
Quem, ele?
Não, eu. Vestia-o sempre com coisas que ficavam horrivelmente mal, mas ficava adorável.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Redículo, Álvaro!

       Todas as cartas de amor são
       Ridículas.
       Não seriam cartas de amor se não fossem
       Ridículas.

       Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
       Como as outras,
       Ridículas.

       As cartas de amor, se há amor, 
       Têm de ser
       Ridículas.

       Mas, afinal,
       Só as criaturas que nunca escreveram 
       Cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.

       Quem me dera no tempo em que escrevia 
       Sem dar por isso
       Cartas de amor
       Ridículas.

       A verdade é que hoje 
       As minhas memórias 
       Dessas cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.

       (Todas as palavras esdrúxulas,
       Como os sentimentos esdrúxulos,
       São naturalmente
       Ridículas.)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Encontros

Saiu do carro a olhar para o relógio, constatando que já estava atrasada. Apressou o passo e dirigiu-se à saída do parque subterrâneo. Já à superfície, a noite estava agradável e havia uma multidão na rua. «Lisboa é linda à noite», pensou. Cortou à direita, para o teatro, seguindo apenas o seu instinto, uma vez que não estava certa da sua localização. O passeio estava interrompido por obras na fachada de um dos prédios e foi obrigada a caminhar na estrada, o que quase a matou. «Taxistas!...», resmungou silenciosamente.
Ia com uns amigos assistir a uma comédia. A noite era votada ao riso, à leveza de espírito. Sabia que se ia divertir. Quando finalmente chegou à porta do teatro, encontrou-se com os amigos. Cumprimentou-os e entraram.

***

O seu álbum de fotografias mental tinha muitas entradas. Eram momentos da sua vida que tinha registado. O seu olhar, como se fosse uma câmera, o seu cérebro o rolo fotográfico. A cozinha nova da casa em construção era uma das entradas mais antigas. Remontava ao seus dois, três anos de idade. Com a fotografia, estavam "anotados" o sentimento de entusiasmo por uma coisa nova e um quase-orgulho por ela ser tão bonita. Passando umas páginas à frente, encontrava outra fotografia: a imagem de um raio eléctrico a passar-lhe mesmo à frente, durante uma trovoada que aconteceu estava ela na escola primária. Nunca vira uma coisa assim. Na verdade, até à data não tinha a certeza de que tivesse sido real. Avançando no tempo até à sua adolescência, as fotografias com o primeiro amor abundavam. Havia uma especial, que conseguia visualizar perfeitamente se o desejasse e fechasse os olhos: era uma fotografia do rosto dele visto de frente, mas apenas da secção que abrangia os olhos e o nariz. Ao lado, tinha anotado o quanto gostava dele, a perfeição do seu nariz triangular e dos seus olhos cor de avelã, as sobrancelhas aloiradas e o quão bom era quando, estando os dois deitados na relva a apanhar sol, desenhava o perfil dele com um dedo, passando-o gentil e calmamente pelos seus traços.
Estes momentos apareciam-lhe assim, salteados. Sempre que a vida lhe fazia magia ou às vezes em momentos banais. Eram aqueles segundos da nossa vida em que tudo pára e captamos tudo o que nos envolve, dando tempo para que o rolo fotográfico seja exposto à luz o tempo suficiente para captar a imagem perfeita.


***


O espectáculo proporcionou-lhes boas gargalhadas. No decorrer da noite que passaram juntos, não pôde deixar de observar os amigos enquanto estes se riam. Os sorrisos, o som das gargalhadas, as rugas em volta dos olhos... tudo isto a deliciava. Percebia que era de momentos destes que o seu álbum e, de uma maneira geral, a Vida eram feitos.
Quando o espectáculo acabou, saíram da sala e desceram as grandes escadas laterais do hall de entrada do edifício ainda a rir-se das partes mais engraçadas da peça. Saíram para a rua e fizeram as contas respeitantes ao bilhetes. Quando saldou a sua dívida ao amigo que os tinha comprado, alheou-se do grupo com o intuito de se deixar absorver pelo espírito da noite que a envolvia. Afastou-se uns passos e virou-se para a rua e as pessoas que passavam, as costas paralelas ao edifício de fachada branca. 
Olhava em volta, procurava algo de especial...
Foi quando olhou sobre o seu ombro direito que encontrou exactamente aquilo que andava à procura. O tempo parou e a magia voltou a acontecer: a mais recente entrada no seu álbum de fotografias.
Ali estava ele, perfilado consigo, de pose descontraída e mãos nos bolsos. A luz de um candeeiro de rua situado mesmo por cima da sua cabeça banhava-o, criando jogos de luz e sombras que lhe exaltavam a figura, mas ao mesmo tempo deixavam passar o seu íntimo humilde. As roupas meio largas que ela desdenhava nos outros rapazes, nele assentavam perfeitamente. Davam-lhe um ar simultaneamente composto e confortável. O gorro na cabeça ocultava parte do cabelo, deixando à vista apenas uma madeixa         loira à frente. Perfeito.

Mas, ao rever a fotografia vezes sem conta, ela apercebeu-se de que nada disto era o que a tornava tão especial. O melhor de tudo, mesmo? Ele estava a olhar directamente para a câmera.

Dera-se o encontro.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Epifania.

Finalmente percebeste. Ou, pelo menos, eu assim espero. Não suporto mais estas horas intermináveis em que o meu cérebro dá nós, e nós, e nós... e não chega nunca a perceber porque é que tudo o que te dou nunca é suficiente. Torna-se extenuante, não só pela reflexão, mas pelo próprio esforço físico que é estar constantemente a pensar em ti. Gasta-me energias que escasseiam e que me fazem muita falta.
Está na altura de cresceres, amigo. Muda de direcção; por ti, não por favor. Já não peço isso.
É por ti. Porque isso que tu tens não se chama vida. Porque estou farta de ter ver 'óptimo' mas de te ler numa angústia que até a mim, mesmo longe, sufoca.

Sai dessa, enfrenta. Mereces mais, mais uma vez.

Escusado será dizer que gosto muito de ti.
Fotografia de Jorge Neto. "De frente para a vida"

terça-feira, 20 de março de 2012