quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Road signs

A placa deu início à contagem decrescente. Durante todo o caminho dentro daquela localidade, lutei pelo oxigénio, que me fugia dos pulmões e se esgotava a cada metro percorrido. Colada ao banco do pendura, ao lugar do morto, ali estava eu: impotente a lutar contra o passado que desfilava diante dos meus olhos. Após cada curva procurava o ponto de referência que me ficara gravado, a única imagem daquela terra que sobrevivera na minha memória: o portão branco 'grafitado de verde', como um dia o descreveu, contando a irritação do pai ao ver o estado da grande placa de metal. Na última curva, ele apareceu. Esta visão deu-me nauseas, agoniou-me. Fechei os olhos e virei a cara para o lado contrário, como se fechar os olhos não fosse suficiente para deixar de ver aquilo. E o oxigénio ia-se esgotando, e eu a afundar-me cada vez mais no banco do carro e nas memórias do meu passado, perguntando-me pela milionésima vez por que não deu certo, lamentando nunca me ter disposto a abrir aquele portão enquanto foi tempo. Os meus lábios contraíram-se numa linha, eu a fazer um esforço por não chorar. Senti dor, saudades e medo do passado mais recente. Calei-os. Calei-os a todos.
Passada a placa com a risca vermelha traçada na diagonal, a contagem parou. Mesmo a tempo. O oxigénio voltou, a dor passou e o medo tambem. A saudade ainda não passou. Aliás, pergunto-me se algum dia passará.
O que importa é que, na estrada da minha vida, este capítulo, tal como a bendita placa, tem um traço por cima, que marca não só um fim, mas, sobretudo, um início. E tudo o resto ficou para trás.

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