quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Missão

Hoje acordei, depois de muitas horas de reposição de sono, e o meu pensamento foi, literalmente: "O que é que ê faço agora?". Tive vontade de ir ao quadro das escalas ver o que tinha de fazer hoje. Quase que fui à cozinha aquecer 5 litros de leite e põr M's nas mesas. Hoje apetecia-me voltar ao lar. Quando percebi que não tinha de fazer nenhuma dessas coisas, fiquei triste. Por mim, fazia desta semana a minha vida. E aposto que muitos de vocês também. Mas, por agora, não é isso que o Senhor nos pede.
Ele pede-nos que peguemos em todas as coisas que aprendemos e descobrimos esta semana e as ponhamos ao serviço de quem não esteve conosco. Agora cabe-nos a tarefa de partilhar esta alegria e entrega em todos os lugares a que vamos: na faculdade, na nossa paróquia, no nosso grupo de amigos e até numa viagem solitária no metro.
As pessoas precisam do nosso testemunho, de conhecer esta verdade libertadora.
Esta semana foi isso mesmo, libertadora. Acho que todos pensamos o mesmo. Libertámo-nos do peso da imagem. Ninguém queria saber se estava bonito ou não. Mesmo que tivéssemos tido espelhos em casa, poucas vezes eles veriam os nossos olhos, acho eu. Estávamos preocupados com coisas muito superiores. Libertámo-nos de coisas do passado, razões que nos faziam sofrer. Recolhemos a âncora que nos prendia e fizemo-nos ao mar. Perdoámos. Libertámo-nos das nossas inseguranças e de todos os constrangimentos e mostrámos quem realmente somos. Cantámos, dançámos e permitimo-nos fazer figuras que, noutras circunstâncias, tenho quase a certeza que não faríamos. Pelo menos eu não o faria. (Uma imitação do Segurado não é coisa que se faça para toda a gente). A certa altura, a meio de uma palhaçada, perguntei-me como é que eu estava a fazer aquilo. Rapidamente percebi que só o estava a fazer por confiar em vocês, por saber que estava entre amigos, entre pessoas que gostam. Se Deus gosta de mim a fazer palhaçadas, vocês também haveriam de gostar. Afinal de contas, vocês tinham-No convosco. Dei por mim a dar o Sim a mim mesma e a mostrar-me a vocês como nunca tinha feito com ninguém em tão curto espaço de tempo.
O C.A. foi um momento especial. Andei a semana toda a pensar que seria engraçado termos um momento assim, com necessidade de vos dizer a todos o que tudo aquilo tinha significado. Era para começar a minha intervenção assim, mas esqueci-me. Queria ter-vos dito que, nos dois dias que antecederam a Missão, equacionei não ir. Tinha medo de estar sozinha e de nao saber o que fazer. Mas havia qualquer coisa que me puxava, que me obrigava a dar o Sim. Pensei para mim mesma: "Sai desse comodismo, Mariana! Tu queres ter o orgulho de poder dizer a todos que em cinco anos de faculdade, fizeste cinco Missões. Tens de começar isto do início.". Também vos queria ter dito que nos primeiros dois dias, estive quase a desistir. Estava constipada, tinha dormido mal e não me sentia nada bem. Só pensava no quão confortável estaria na minha casinha, com a lareira acesa e a dormir o quanto quisesse. Mais uma vez, reprimi a minha preguiça e obriguei-me a ficar e a não desistir. "Já aqui estás. Uma gripe são três dias, por isso, daqui a dois dias hás-de estar boa, aqui ou em casa. E se te curares no dia a seguir a ires para casa, vais passar o resto da semana a roer-te por não estares aqui.", pensei. Não foi fácil, mas estou orgulhosa da decisão que tomei e grata a todos vós por me terem ajudado. Só foi possível com a vossa força.
Depois da gripe, veio a saga das lagartas e das comichões. Estava visto que aquilo nao me ia ser facilitado. À rouquidão juntou-se a comichão. Lindo. Nada disto me facilitou a tarefa a que Ele me tinha chamado, mas não desisti.
Cheguei ao Lar e senti-me inútil. Tão inutil. Se eles já ouviam pouco, pouco ouviram da minha boca, porque eu quase não falava. Mas, tal como disse, acredito que Deus me tirou a voz para eu falar com as minhas acções. Tentei, o mais que pude. Mas nem foi difícil. Convosco, consegui a cada momento fazer a melhor escolha; consegui dizer sempre "Bom dia!" com o maior amor, sorrir com alegria verdadeira.
Houve momentos em que desanimei, em que pensei que não estava no lugar certo. Não estava a dar o melhor de mim e eu sentia isso. Mas vocês deram-me o alento que precisava. Obrigada pelos vossos sorrisos contagiantes, pela vossa preocupação.
Nunca conseguirei explicar os momentos de oração a quem não os viveu. Nós estávamos todos ali numa salinha pequenina, apertadinhos. Mas o que sentimos foi tão grande que estava para além daquele espaço. Para além do espaço e do tempo. Estávamos ali uns para os outros e todos para Ele, numa entrega sem limites. Nunca esquecerei os sorrisos que se ouviam quando cantámos todos, a uma só voz, "O sorriso que é teu". Estávamos todos com o coração atado a ele, realmente. Não há como explicar aqueles momentos, mas esta música diz muito. De cada vez que entrava pela porta da capelinha, sabia que ia ter uma surpresa, que iria aprender algo que mudaria a minha vida. Sempre que saía, sabia que a minha função era partilhar o que tinha aprendido.
E assim tentei, durante toda a semana. E, apesar de as orações e da missão externa me terem ensinado muito, quem me ensinou mais durante toda a semana foram mesmo vocês, Missionários com letra maiúscula. Os vossos sorrisos logo pela manhã, as conversas sobre a vida, os abraços, os "oh, tão querida!"... vocês não calculam a importância. Sabem, também vos queria ter dito isto: acho que nunca ninguém me tinha achado querida...porque eu nunca fui querida. Quer dizer, nunca pude ser querida, não sei porquê. No fundo acho que sempre fui assim, mas poucas pessoas sabiam disso. Mas foi com o vosso amor e carinho que consegui mostrar isso a mais pessoas. Consegui mostrar-me. Quem eu realmente sou, como Ele me fez. E estou-vos eternamente grata por isso. Porque acho que agora as pessoas vão poder conhecer-me como eu sempre desejei.

E assim concluo o meu testemunho, com umas quantas coisas ditas mas muitas mais por dizer. Não tenho palavras para descrever o impacto desta semana e das vossas luzinhas na minha vida. Fomos força transformadora não só para os Samorenses, mas também uns para os outros. E isso não tem preço. Obrigada a todos. Obrigada aos chefes. Guardo-vos no meu coração, na minha memória e nesta cruz que tenho ao peito. Vamos continuar a nossa obra; a nossa não, a d'Ele.

NÓS SOMOS A LUZ DO MUNDO!

1 comentário:

  1. Mariana, gostei do que li. A nossa "missão" existe todos os dias e as vezes cansa. Não está só num local distante onde nada nos prende. A nossa verdadeira "missão" também está ao pé da nossa porta e é a que exige mais de nós. Digo-te por mim e por ti e por todos. Amamos longe mas esquecemos os nossos. Eu as vezes esqueço-me da minha "missão", lembro-me da CO, lembro-me de Taizé...mas esqueço-me que a avó precisa de mim, mais do que o avô e faço muito pouco por eles. Vês a nossa "missão" está ali ao lado. Esta é a mais dificil de cumprir. Beijo. Primo-irmão.

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